domingo, 27 de agosto de 2017

Psicografia
Entramos na casa da tia Vera, ela estava psicografando. Antônio Carlos ditava a ela que escrevia distraída e feliz.

—Veja como é — disse Maurício. — Faça como Antônio Carlos, tudo é simples.


Minha tia estava sentada à escrivaninha e Antônio Carlos, sentado ao lado, ditava o que lia de um dos seus cadernos. Ele fixava seu pensamento na mente dela. Observamo-los por minutos. Antônio Carlos parou e disse a minha tia:


—Surpresa! Patrícia está aqui e irá ditar a seus pais.


Titia realmente se surpreendeu e se concentrou. Pensou em mim, aproximei-me, ela me sentiu. Este “sentiu” é ver pela percepção. Sorriu contente.


—Como você está bonita! Patrícia, sinta-se à vontade. Vamos escrever?


Aproximei-me mais e a abracei. Ditei devagar e titia foi escrevendo.


Foi um bilhete. Mandei abraços, agradeci, dei notícias minhas. Pedi que não se privassem de nada por mim.


Realmente foi mais simples do que pensei. Explicar o que é ser médium é complicado, ainda mais se partir para o lado científico.


Disfunção orgânica? Um dom a mais? A menos? O importante é que se faça desta sensibilidade útil pelo trabalho.


Confiar na força do Bem e se esforçar para acertar. Médiuns honestos fazem deste intercâmbio um bem para muitas pessoas.


Ao terminar, agradeci a minha tia e me afastei. 


Julgando que já tinha ido, titia chorou de saudades.

Vi meus primos e abracei-os.


—Maurício, — indaguei — titia faz muitas mensagens.


Desencarnados gostam de escrever?


—Quase todos. Não gostou? Não é agradável dar notícias aos familiares?


—Não conheço ninguém na Colônia, a não ser vovó, que escreva aos seus.


—Psicografia não é um fato tão normal assim. São muitos os médiuns que poderiam fazer, pequena parte o faz. Isto diminui os canais de intercâmbio. Depois são poucos os encarnados que desejam receber notícias, a maioria não crê neste possibilidade. Mensagens, como todas as graças, não devem ser ofertadas, mas pedidas.


—Agora, passaremos novamente em sua casa para que veja sua mãe e voltaremos à Colônia — Artur disse, pegando minha mão.


Beijei mamãe de novo, pedi a ela para ficar alegre. O telefone tocou.


Era minha tia contando-lhe a novidade.


—Você a viu? — indagou mamãe emocionada. — Está bonita? Bem?


Graças a Deus!


Desligou o telefone, olhou para o quadro de Jesus que enfeita a parede de nossa sala, orou comovida, agradeceu e, com lágrimas nos olhos, rogou:


“Jesus, muito obrigada! Cuida sempre dela para mim, por favor!”


—Ah, Jesus! Cuida deles, por favor! — completei com fervor.


Voltamos à Colônia. Volitamos até o portão, este foi aberto, entramos.


Estava calada, vê-los diminuiu minha saudade. Sabia que eles sofriam, mas estavam fazendo até o impossível para que tivesse a tranqüilidade necessária na minha adaptação. Mamãe era a que mais sofria. Maurício disse carinhosamente:


—Tudo passa, menina Patrícia. O tempo cura feridas.


—Mas deixa cicatrizes — respondi.


—Cicatrizes não doem. Você será sempre lembrada por seus
familiares, é amada. O tempo suaviza até a saudade — Maurício finalizou.


—Agradeço-os por tudo — disse comovida.


—Vamos ao teatro? — Frederico me convidou.


Fomos, um coral de outra Colônia cantou lindas canções, distraí-me.


Ah, os amigos. O que seria da gente sem eles?


Periodicamente um deles me acompanhava para visitar minha família, até que pude ir sozinha. Ver os familiares é uma alegria indescritível.


Frederico me explicou: —Patrícia, você pode fazer estas visitas, porque não se perturba com elas. A maioria desencarnada espera muito tempo por isto. O desencarnado necessita ter entendimento, ter aceitado a desencarnação e os familiares estarem conformados, porque o desencarnado pode ter vontade de ficar e, às vezes, fica. Principalmente se o desencarnado encontra o lar terreno com muitos problemas ou quando os encarnados chamam por ele, pedindo ajuda. Os orientadores daqui têm que analisa todos estes problemas antes de dar autorização a um desencarnado para visitar seus entes queridos. Porque, dependendo, estas visitas podem ser prejudiciais ao visitante.


Sempre escrevi cartas, mensagens à minha família, contava a eles o que via, o que sentia, assim eles acompanhavam meu progresso, a saudade suavizava. Quando não podia ir ditar, um dos meus amigos o fazia por mim.


Antônio Carlos, que sempre me incentivara a fazer as mensagens, um dia me esclareceu:


—Patrícia, estas mensagens também não são privilégio. Isto pôde acontecer por dois fatores: por merecimento dos seus pais e porque você já inicia um treino.


—Treino!?


—Por que se espanta? Sua tia sempre lia seus pensamentos. O intercâmbio é fácil entre vocês duas. Treino sim, certamente mais tarde irá querer ditar aos irmãos encarnados tudo que vê e aprende.


—Escrever livros?!


Ri gostosamente, Antônio Carlos riu também.


—Por que não?


—Não sou escritora.


—Aprende a ser.


Não pensei mais nisto, mais continuei com as mensagens, elas são presente, bálsamo à saudade dos meus.


Via sempre pelo aparelho de “televisão” meus familiares. Eram minutos por dia, temos que educar nossa vontade, senão podemos querer vê-los a todo momento. Pode-se escolher horário para vê-los. 


Sempre o fazia à tarde ou à noite. Orava antes, via-os, desligava e voltava a orar, sempre me esforçando para estar tranquila. Era uma exceção ter este aparelho. Foi Artur quem me deu. É raro alguém ter um aparelho deste tipo. Foi possível porque Artur, espírito simples, mas com vastíssimos anos de trabalho útil, recebera de presente pelo muito que fez à Colônia.

Mas há em vários prédios da Colônia salas com estas televisões. Há na escola e no hospital, onde desencarnados podem pedir e receber
autorização para ver seus familiares.


Principalmente no hospital, onde os doentes em recuperação se preocupam com a família, desejam saber como eles estão. Antes de serem atendidos, estes pedidos são orientados. Se os instrutores acham que pode ser útil, eles podem fazer uso deste recurso tão gratificante. Passam por este processo, porque muitos desencarnados ao verem os familiares mesmo que seja pela televisão choram desesperados, piorando sua situação. 

Cada caso é um caso. Estando o desencarnado melhor, e tendo conhecimento desta possibilidade, se quer, faz o pedido e os orientadores analisam se ele vai poder ou não fazer uso deste maravilhoso aparelho. Assim mesmo pode acontecer de não dar certo. Se há permissão, vão com os orientadores à sala própria. Para muitos são bênçãos, alegrias saber dos seus, vê-los.

Para outros, nem sempre; ver os familiares com problemas, sofrendo, não é agradável. A maioria dos moradores daqui gosta de usar deste recurso, os que trabalham pagam por isto. Justo, é uma forma de incentivar o trabalho e premiar o trabalhador.


—Artur, — indaguei — recebi muitos presentes, até de bônus-horas.


Por que isto é possível?


—Presentear é tão agradável! Certamente temos a liberdade de usar dos nossos bônus para presentear, mas tomamos cuidado para não incentivar a preguiça, a inércia em quem presenteamos. Aos recémchegados aqui, amigos e parentes gostam de agradá-los e também incentivá-los a serem úteis.


—Você me deu a televisão, foi um presente tão agradável ao meu coração. Todos presentes foram dados com alegria, carinho, recebi-os com gratidão.


—Nunca usei este aparelho, recebi com carinho e guardei. Dar a você, que o utiliza, me deixa contente, é sempre gratificante poder alegrar um amigo.


Para todos aqueles que encaram a realidade com naturalidade, a desencarnação não os separa dos entes amados e ausência fica menos sentida.

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