domingo, 27 de agosto de 2017

Primeiros Conhecimentos 
Acordei bem disposta, estava sozinha, as lembranças vieram-me à mente. “Bem — concluí — se desencarnei, tenho que me adaptar rápido e aprender como viver desencarnada”.

Tinha lido muitos livros espíritas, gosto muito de ler. E me veio à lembrança o livro Nosso Lar, de André Luiz. O autor narra bem como é viver numa Colônia. E, se estava numa Colônia, só tinha motivos para agradecer. Desencarnei e não vaguei, não sofri, não fui para o Umbral.


Estava sendo socorrida e me sentia ótima. Observei curiosa o quarto. Era simples, limpíssimo, com um armário, uma mesinha, duas cadeiras e uma poltrona. Na parede um espelho. Mas havia duas portas e uma janela.


—Será que levanto? — falei baixinho.


Após uma leve batidinha na porta, Maurício entrou sorrindo. Me deu vontade de perguntar por que ria tanto, mas não fiz, preferi sorrir também.


—Bom dia, menina Patrícia. Como está?


—Bom dia.


—Você também tem um lindo sorriso. Gosto de sorrir, fico menos feio e não assusto tanto. Depois sou tão feliz...


Senti meu rosto queimar, devo ter ficado vermelha, ele pareceu nem notar e continuou a falar alegremente.


—Acordou disposta, está muito bem. Levante se quiser e fique à vontade.


—Sinto muito sono, acordo e quero dormir novamente. Dormi muito?


Quantos dias?


—Você desencarnou há dezesseis dias. Dorme muito porque estamos atendendo a seu pai, que nos pediu que a adormecêssemos
nestes dias.


—Por quê?


—Achamos que é melhor para você. Assim, neste período difícil que é para os encarnados a perda de um ente querido, você dormindo não
sente.


—Estão sofrendo muito?


—É natural que sofram. Seu desencarne foi rápido, não esperavam, você estava tão bem. Não deve se preocupar, o tempo se encarrega de suavizar todas as dores.


—Acho que vou dormir de novo.


Acomodei-me e dormi. Meu sono era tranqüilo e gostoso. Quando acordei, estava só. Orei com fé, agradeci ao Pai o muito que recebia, roguei a Jesus amparo a minha família, pedi consolo a eles. Eu os amava e era amada. Se eles queriam que estivesse bem e feliz, eu desejava alegria a eles. Orei pensando em todos, um de cada vez. 


Senti mamãe triste. Ao pensar em papai, senti-o como se estivesse na minha frente a dizer com sua voz forte: “Patrícia, minha filha, não tenha dó de você, não deixe a autopiedade lhe esmorecer. Seja forte, quero-a alegre. Sorria! A vida é bela, estando cá ou aí não importa, o que precisamos é estar com Deus. Amigos cuidam de você, receba seus carinhos. Fortaleça-se, não tema. Você está bem, esforce-se por ser feliz. Estaremos sempre juntos.

Você não deve se importar com a perda do seu corpo carnal, deve entender que a vida lhe é grata. Ore. Sinta nosso carinho e sorria”.


Fiquei animada, levantei, abri a outra porta e deparei-me com um banheiro bem bonito, limpo e simples. Abri a torneira da pia, a água com a temperatura ambiente era agradável e límpida. Lavei minhas mãos e rosto.


Olhei no espelho. Estava com ótima aparência. Ajeitei meus cabelos.

Voltei ao quarto, abri o armário e deparei-me com algumas de minhas roupas. Não gostava de ficar com roupa de dormir, escolhi uma calça jeans e uma camiseta amarela e me troquei. Senti-me muito bem. Desencarnei no inverno, a temperatura estava bem fria, mas ali não sentia frio.


Ouvi batidas na porta, logo em seguida Maurício entrou, desta vez fui eu quem sorriu. Trouxe uma bandeja que colocou em cima da mesa.


—Que alegria vê-la tão bem!


—Maurício, não estamos no inverno? Aqui não faz frio?


—Nem frio, nem calor. Nas Colônias a temperatura é sempre suave e agradável. No Umbral, a temperatura varia como para os encarnados.


Descobriu a bandeja, continha alimentos.


—Patrícia, venha comer.


—Pensei que não ia mas necessitar de alimentos.


—A impressão de encarnado não se perde da noite para o dia.


—Você se alimenta?


—Não, — sorriu — não desta forma. Lembro-a que o perispírito de que agora está revestida é ainda matéria. Somente aos poucos deixará de se alimentar e, para isto, é necessário aprender a se prover de outras fontes de energia. Se quiser se banhar, fique à vontade, a sala de banhos ou banheiro está logo ali. Você, como tinha bons hábitos de higiene, é natural, só deixará de fazer o que estava acostumada quando aprender a se higienizar pela força de vontade.


—E estas roupas? São minhas. Como vieram parar aqui?


—Certamente não são as mesmas. Encarnada vestia roupas da matéria. Aqui são diferentes, são roupas próprias para desencarnados.


Estas são cópias das que tinha. Plasmei para agradá-la. Troque-as à
vontade.


—Obrigada. Acontece assim com todos que desencarnam?


—Não. Você, Patrícia, veio ter na Colônia por mérito e afinidades.


Fez, encarnada, muitos amigos aqui, é querida. Amigos são para ajudar.


No seu caso, tentamos agradá-la. Infelizmente não é para todos que podemos fazer estes agrados. A maioria veste roupas confeccionadas com fluidos mentais, fabricadas na Colônia. Como esta minha.


Patrícia, somos companheiros de trabalho de seu pai. Ele nos pediu, confiou-nos você e espero cuidar bem da menina.

—Não fui para uma enfermaria.


—Se fosse, não acharia ruim. Talvez por não desejar exclusividade que podemos fazer tudo isto por você. Quartos individuais são para poucos somente. Alimente-se.


Havia na bandeja frutas, doces e pães. Peguei uma pera, estava deliciosa, comi-a num instante. Comi de tudo para experimentar. As frutas são saborosas, os pães macios e deliciosos. Maurício me observava sempre sorrindo. Acabei de comer e o olhei.


Queria tomar banho, estava com vergonha de dizer. Parecia tão estranho!


Desencarnei e estava me alimentando e sentia vontade de tomar banho.


—Menina Patrícia — disse meu amigo — fique à vontade. Tome banho, escove os dentes, use o vaso sanitário. Vou levar a bandeja, volto daqui a uma hora. Se necessitar de ajuda, toque a campainha.
Entrei no banheiro e tomei um delicioso banho de chuveiro. Sempre gostei de banhos de água quente e a água estava como queria. O chuveiro é um pouco diferente dos que conhecia, é regulado por um botão giratório. (Aqui os aparelhos a que me refiro não são do padrão geral.


Para cada local são usados os que mais convêm e são úteis.)


Lavei-me da cabeça aos pés. Coloquei a mesma roupa. Senti-me muito bem. Penteei meus cabelos. Meus cabelos longos e ondulados nos davam, a minha mãe e a mim, muito trabalho. “Que vou fazer agora?” pensei. Mas, incrível, eles ficaram como queria.


Maurício, como prometeu, voltou.


—Oi Patrícia!


—Maurício, —disse entusiasmada — meus cabelos ficaram como eu quis. Parece que obedecem à minha vontade.


—Será assim, você quer, sua vontade se concretiza. Terá, sem trabalho, seus cabelos como você gosta.


Como me alimentava, tinha as necessidades fisiológicas e para isto usava o vaso sanitário. Não tive mais menstruação, isto é fator do corpo de carne. Mas soube que algumas mulheres ainda tinham como reflexo do corpo. (Mulheres que vagam, nos Umbrais, têm mais o reflexo do corpo.


Muitas se iludem e se julgam encarnadas e vivem como tal, com todas as necessidades do corpo.)


Aos poucos, fui dormindo menos, acordava com fome, tinha sede.


Alimentava-me de frutas, pães e caldos ou sopas de legumes. Gostei muito de todos os alimentos, tudo muito saboroso e energético. A água cristalina é a maior fonte de energia. Vovó recomendou que, todas às vezes que tomasse água, pensasse que estava me alimentando. Tomava todos os dias meus gostos, os banhos e trocava de roupa. 


Encarnada, trocava de roupa, que era lavada e passada. Vovó levava as roupas que trocava, trazia-as depois limpas e as colocava no armário. Tempos depois, vovó me explicou que levava minhas roupas e, com sua força mental, as limpava deixando como gostava de usá-las. Quando aprendi a higienizar meu corpo pela vontade, aprendi também a limpar minhas roupas.

Estava calma e tranqüila. Também, com tanto carinho, quem não ficaria?

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