domingo, 27 de agosto de 2017

Férias 
A reunião foi na escola, na sala de palestra. Os professores estavam presentes no horário marcado. D. Dirce presidiu a reunião, ela orienta somente a parte da escola que alfabetiza. Sempre tão amável, cumprimentou-nos sorrindo.

—Boa tarde! Estamos no término do ano letivo e iremos, como todo ano, fazer uma festinha para os que terminaram o curso.


Todos os cursos da Colônia têm tempo certo para terminar. A maioria segue o calendário dos encarnados. 


Falando em calendário, aqui temos horário, dia, ano, tudo como os encarnados. As Colônias e Postos de Socorro seguem a marcação do tempo do espaço físico a que estão vinculados. Exemplo:
numa Colônia na Europa, no espaço da Áustria, o horário é igual ao da Áustria, ou seja, a Colônia está no espaço espiritual, a Áustria no espaço físico.

A Colônia São Sebastião segue o fuso horário do Brasil, da cidade de São Sebastião do Paraíso.

Quando são duas horas na cidade física, são duas horas na Colônia. Aqui seguimos horários, tem hora para tudo, e são obedecidos. Para ter ordem é necessário disciplina. Há horários para turnos de trabalho, para estudo, etc.

Os cursos começam no início do ano e normalmente terminam no final do ano. Raramente se faz num ano somente este curso de alfabetização. Para os que querem somente ler e escrever, um ano de estudo basta. Normalmente, este curso é feito em três anos, nos quais os alunos recebem conhecimentos equivalentes ao primeiro grau.


Porém, há os que têm mais dificuldades para aprender e demoram mais tempo.

Concluem o curso os que querem, mas só em casos especiais não terminam. Os que o concluem têm muitas opções, podem continuar a estudar ou dedicar-se a outras tarefas, contribuir com mais horas ou trabalho útil. Todos os alunos trabalham. Trocamos idéias sobre a melhor maneira de ensinar. E em rápidos comentários foram programadas as festividades. D. Dirce, continuando a reunião, disse:


—As férias se aproximam e vamos pensar no melhor modo de
passá-las.


Fiquei espantada e acho que demonstrei. Carinhosamente, D. Dirce
explicou, dirigindo-se a mim, a novata do grupo.


—Patrícia, você é a primeira vez que colabora conosco, os outros estão há mais tempo aqui. Temos conhecimento de que você não deverá voltar no próximo ano, sentimos, mas sabemos que irá aprender em curso como é viver no Plano Espiritual. Agradecemos sua colaboração e esperamos que tenha gostado de trabalhar conosco.


Temos férias, ou períodos de descanso. Todos os trabalhadores têm um período após certo tempo de trabalho para descansar, ou cuidar de problemas pessoais.

Enfim, para dedicar-se ao que quiser. Temos férias como os encarnados têm, mas nem tanto. 


Normalmente são férias de duas semanas, no máximo três, ou poucos dias. Tanto os alunos como os professores desta  escola têm férias no período do Natal. Para os alunos, é um período de descanso após uma etapa de estudos. Também todos os anos há a festinha para os que concluíram o curso. Nós, os professores, merecemos as férias, embora eu saiba que nenhum de nós fica sem fazer nada.

Aproveitamos para visitar familiares encarnados e desencarnados, participamos de socorro extra a irmãos que sofrem. São poucos dias, iniciaremos o trabalho na segunda semana de Janeiro.


—Não gostaria de ficar sem fazer nada, eu trabalho há tão pouco tempo — falei.


—Se você, ao terminar as aulas, quiser trabalhar, peça orientação de amigos — D. Dirce aconselhou. —Porém, se quiser curtir as férias, verá como o Natal é lindo na Colônia. Mas o motivo também desta reunião é a avaliação dos alunos. Vocês vão avaliá-los conforme o aproveitamento de cada um, para que possamos separá-los em grupo para melhor aprendizagem.


A reunião foi realizada com grande aproveitamento. Quando saí da escola fui conversar com Frederico e comentei:


—Frederico, não pensei que desencarnados tivessem férias.


—Nem todos têm, eu nunca as tive. Não necessito, trabalhar faz parte de mim. Mesmo de licença como agora, procuro ser útil. Mas todos os que trabalham têm direito a um descanso. Os orientadores das Colônias organizam os trabalhos para que todos tenham um período livre para descansar. Este período é livre para fazer ou passá-los como quiser, dentro das normas da Colônia. Muitos passam com os entes queridos encarnados ou desencarnados, vão visitá-los e muitos os ajudam. Como também podem dedicar-se a outras tarefas, visitar outros locais.


Para os novatos na Colônia, estas férias são importantes, principalmente aos jovens. Faz parte da adaptação.

—Não quero ficar sem fazer nada neste horário. 


Mas não sei o que fazer, ou o que posso fazer.

Frederico sorriu.


—É bom que aprenda a fazer muitas coisas, e a se dedicar no futuro pelo que possa ser mais útil a você e aos outros.


Quase não dormia, tinha muito tempo. Pedi a Frederico:


—Não posso ajudá-lo por mais tempo?


—Sim, alegro-me por tê-la ao meu lado.


—Será que posso ser realmente útil?


—Quando queremos, somos — respondeu-me animando.


A escola amanheceu em festa no dia marcado para as festividades de encerramento. A entrega dos certificados foi à tarde. A alegria é sincera. O certificado não é um comprovante, o que interessa realmente é o que se aprendeu. Mas não deixa de ser uma conquista e os que receberam estavam felizes. Agradeci a meus colegas e a D. Dirce pelo carinho, atenção e ajuda que recebi neste pouco tempo que ali estive.


Conversei muito com D. Dirce. Nossa orientadora disse que ia visitar familiares e, após, unir-se a um grupo que ia trabalhar junto aos drogados.


—Nas minhas férias — completou — faço sempre este trabalho.


Aqueles que se perdem no vício são os verdadeiros escravos, necessitados de liberdade. Gosto muito de colaborar neste socorro.


Mas é ensinando que me realizo. Amo ensinar.

—Também gosto — respondi — mas estou mais interessada em aprender. D. Dirce, eu sou muito grata à senhora. Obrigada por tudo.


O coral infantil veio nos brindar com lindas canções infantis, natalinas e alguns salmos. Estavam todos vestidos iguaizinhos, de amarelo clarinho. São lindas, não há crianças feias, todas saudáveis e felizes. Gostam de cantar, encantam quem as escuta. São tão alegres que irradiam felicidade:


Lúcio, um dos meus alunos, aproximou-se de mim e me entregou um poema que tinha feito. O poema simples exaltava o mestre e a alegria de aprender. Agradeci comovida.


—Patrícia, — disse ele — encarnado fui um doente mental, um excepcional. Há tempo desencarnei, fui socorrido, aos poucos fui me recuperando e passei a trabalhar, a fazer pequenas tarefas. 


Orientadores insistiram para que estudasse, há pouco tempo interessei-me em aprender. Envergonhava-me das minhas dificuldades. Quando encarnado, escutava muito que era burro, sem inteligência. Sofri muito, tive muitas dores, fui desprezado, passei fome, frio e fui muito doente. Desencarnei adulto. Aqui é tão diferente! Amo a Colônia! Sinto que não fui deficiente em outras existências. Mas não quero recordar o passado, temo-o.

Orientadores me disseram que sou como um fruto verde, não estou preparado, pronto para recordar o passado. Realmente, não quero. 


Não querendo recordar nada, tenho que aprender novamente e agora faço com gosto.

Lúcio afastou-se, fiquei a pensar. D. Dirce, que se achava perto, vendo-me pensativa aproximou-se.


—Por que está tão pensativa?


—Lúcio me contou que encarnado foi um excepcional. Que sente que foi inteligente, mas não quer recordar o passado, prefere aprender de novo.


—Patrícia, nenhum encarnado é excepcional sem motivos. E os motivos são vários. Lúcio, temendo o passado, não quer recordá-lo. São deficiências que devem ter origem pelo abuso de uma inteligência brilhante. Aqui se tem o cuidado de não fazer da recordação do passado um sofrimento e um empecilho ao crescimento Espiritual. O passado passou, não se muda. 


Construímos o presente e o futuro. Se Lúcio quisesse recordar, o departamento que ajuda muitos a fazê-lo iria estudar seu caso, só o ajudaria a recordar se fosse para seu próprio bem. Muitos são imaturos para isto. Recordando seu passado, se fosse instruído, lembraria e teria seus conhecimentos.

—Mas ele tem dificuldades para aprender.


—Ele ainda não conseguiu se livrar por completo de sua deficiência. Mas está aprendendo, não só instruindo como também as lições Evangélicas são fixadas em sua mente. Reeduca-se Meus alunos me presentearam com abraços, agradecimentos e com um buquê de flores. Fiquei emocionada. A festa foi linda!


O Natal se aproximava. Natal sempre foi festa para mim, embora papai sempre nos alertasse que datas não representam nada e que o Natal passou, para a maioria, a ser uma festa material.


Era a primeira vez que passava o Natal desencarnada e estava curiosa.

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