domingo, 27 de agosto de 2017

As Visitas 
Abri a janela, que surpresa agradável! A vista dava para o pátio rodeado de árvores e flores.

Pássaros coloridos cantavam alegres nos galhos das árvores e algumas borboletas de rara beleza voavam distraídas. Mas me encantei foi com o céu, era dia.

À tarde, o firmamento é de um azul maravilhoso como nunca tinha visto. Distraí-me tanto que fiquei tempo olhando tudo extasiada com tanta beleza.

—Patrícia — Maurício me chamou baixinho.


—Oi, Maurício!


—Chamei-a baixinho temendo assustá-la.


—Maurício, estou encantada com tanta beleza. Nunca vi o céu tão lindo!


—É o mesmo dos encarnados. Vê agora diferente e acha mais bonito, porque sua percepção visual é muito maior.


—A Colônia São Sebastião é do tamanho do Nosso Lar? (Nosso Lar é a Colônia Espiritual que o autor André Luiz descreve com muito encanto no livro Nosso Lar, psicografado por Francisco Cândido Xavier.)


—Não, a nossa Colônia é pequena. Há Colônias pequenas, médias e grandes como Nosso Lar. São muitas Colônias espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. São como as cidades de encarnados. Elas também diferenciam na sua administração, mas procuram ter todos os ministérios, ou seja, órgãos para melhor administrá-las. Para que entenda, são como secretarias nas cidades de encarnados. Todas as Colônias são muito bem organizadas e todas oferecem atrativos maravilhosos para os que estão aptos a ver e a sentir. Tendo autorização para sair do quarto, vovó levou-me para passear naquela parte ou ala do Hospital onde estava localizado meu quarto.


Andava observando tudo, desde os corredores, os outros quartos e foi agradabilíssimo ir ao pátio.

Sentamos num banco, olhava tudo curiosa. As árvores são sadias, de um verde bonito, as folhas harmonizam com o conjunto. Os pássaros não nos temem, vêm até nós quando chamados.

—Vovó, veja este, que lindo! É azul! Aqui tudo é mais bonito, o sol, a lua, as estrelas!


—O nosso estado de espírito influi, levando-nos a ver tudo mais bonito. Os animais, aqui, são amados, protegidos, são amigos. 


Temos nas Colônias animais domésticos e muitos outros que ajudam os socorristas.

No Educandário, há muitos animais que encantam as crianças. No bosque há várias espécies, todas dóceis e amigas.


Gostei muito das flores, há pela Colônia muitas trepadeiras floridas de muitas variedades.


Recebi muitas visitas, eram amigos, parentes e trabalhadores desencarnados do Centro Espírita do qual fiz parte.


Eram visitas rápidas e agradáveis, todos procuravam me agradar. Traziam presentes: frutas, livros, flores, bônus-horas para que pudesse logo que possível ir ao teatro, palestras e em outros lugares de lazer. Foi agradável conhecer, Antônio, Alexandre, Artur e tantos amigos, companheiros desencarnados, trabalhadores do nosso Centro Espírita. (Amamos, minha família e eu, o Centro Espírita que eu freqüentava e eles freqüentam. E carinhosamente chamamos a este local de “nosso”.)

Artur me trouxe um mapa da Colônia. Em quase todas as Colônias, há estes livretos, que mostram como elas são e onde estão localizados seus prédios. Só não vi estes mapas nos Postos de Socorro, por não haver necessidade, pois são pequenos. Fiz uma lista de lugares aos quais queria ir e do que gostaria de fazer. A lista ficou enorme.


Conforme ia conversando com os amigos que comentavam as belezas dos lugares, ia marcando no meu caderninho. Queria conhecer principalmente os locais de estudo.

—Vovó — indaguei —, e meus avós, ainda não os vi?


—Estão encarnados, é a lei da vida, ora aqui, ora lá...


Estava gostando realmente de estar desencarnada.


Numa tarde, estava só, recebi outra visita.


—Boa tarde!


Entrou no quarto, ofertando-me um presente, um novo amigo trajado de branco. Sorrindo me estendeu a mão apresentando-se.


—Sou Antônio Carlos!


—Que prazer! Como vai tia Vera?


—Todos vão bem. E você?


A agradável conversa durou alguns minutos. Após, ele se despediu, prometendo voltar novamente.


Abri o presente: dentro de uma caixa de plástico duro e transparente estavam “algumas coisas”. Nunca tinha visto. Sem saber o que era, fiquei a pensar: são doces? Bombons? Tinham formato de pequenos botões azuis, mais escuros no centro clareando nas pontas, com uns pequenos cabinhos. Abri a caixa.


Examinei-os, o cheiro era agradável. 

Experimentei, gostei e comi.

Logo após, Maurício veio me ver.


—Então, Patrícia, gostou das flores que Antônio Carlos lhe deu?


—Flores?! — respondi fazendo careta. —Eram flores?


—Sim, de uma espécie de rara beleza, magnetizadas para não secar.


Que fez com elas?


—Comi...


—Comeu?!


Maurício deu uma boa gargalhada. Ao me ver sem “graça”, ficou sério. Pensei: E agora? Me farão mal?


—Não — respondeu meu amigo adivinhando meus pensamentos. 


— As flores não lhe farão mal. Imagina que Antônio Carlos ficou tempo a pensar o que ia lhe trazer, a colher as flores em Plano Superior e a magnetizá-las. Elas não lhe farão mal, só que não era para comê-las.

Mas, me diga, são gostosas? —São! Nunca vi flores azuis daquele modo, pensei que fossem doces confeitados.


Comecei a rir, rimos. Sempre fui distraída. Lembrei de Carla, minha irmã, ela estava sempre a me chamar atenção sobre minha distração. Se ali estivesse iria dizer com certeza “Esta Patrícia!”


—Maurício, estou bem e quero ser útil, acho que para evitar “estas ratas” necessito aprender.


—Calma, menina, acaba de desencarnar, tudo tem seu tempo. O recém-nato de hoje será o homem de amanhã. Irá sair deste quarto e irá morar por enquanto com sua avó. Ela estará de licença do trabalho e ficará com você, lhe mostrará a Colônia, seus jardins e flores. 


Depois, aprenderá e será útil como quer.

Vovó, logo após a visita de Maurício, veio me ver toda contente.


—Patrícia, amanhã cedo virei buscá-la para morar temporariamente comigo. Moro na parte residencial da Colônia, numa casa muito bonita com cinco amigas. Todas muito simpáticas. A casa é grande, cada uma de nós tem um quarto privativo. Este quarto é mais um local onde guardamos nossos pertences, um cantinho particular. Terá um só para você. É como  este: quarto e banheiro. Levaremos suas roupas. Poderei ficar com você e a levarei para passear.


—Vovó, a senhora gosta daqui?


—Muito.


—Irá deixar seu trabalho para ficar comigo?


—Não de todo. Trabalharei enquanto você dorme, serão algumas horas a menos. Mas será por pouco tempo.


—Vovó, que faz?


—Trabalho no hospital, em outra parte, onde estão os realmente enfermos do espírito.


—Obrigada! Todos são tão carinhosos comigo.


Vovó sorriu despedindo-se. Ao ficar sozinha, papai veio à minha mente: “Minha filha, não se aflija por nenhum motivo. Não tema o desconhecido. Deus está em toda parte, sinta-o. Aceite com alegria o que lhe está sendo ofertado. O tempo passa rápido, logo terá no Plano Espiritual seu lar, seu verdadeiro lar.”


Peguei um livro que Maurício me presenteara para ler. Estava quase no final.


Lembrei-me que, quando desencarnei, estava lendo um romance Espírita.


Parecia que minha vida não mudara em nada, ou mudaria?

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